Matérias especiais
O que está acontecendo com a nossa Terra?
Você deve ter acompanhado, pelos veículos de imprensa, as inundações que arrasaram várias cidades do Rio Grande do Sul. E também já deve ter ouvido falar que as mudanças climáticas são consideradas um dos responsáveis pelo aumento de eventos climáticos extremos como o que o estado gaúcho está vivenciando.
Inundação no Rio Grande do Sul
Crédito: Agência Brasil
As mudanças climáticas são transformações nos padrões de temperatura, regime de chuvas e circulação atmosférica que ocorrem no planeta Terra e que vêm se agravando ao longo das últimas décadas.
Tais transformações podem ser naturais (a partir de mudanças no eixo do planeta, por exemplo) ou provocadas pelo homem, como a partir do desmatamento que deixa de proteger o solo da ação da erosão, altera as condições de umidade e, consequentemente, do regime de chuvas e emite gases de efeito estufa, que podem aumentar a temperatura do planeta. Tais transformações podem provocar desastres, escassez de água, incêndios, aumento do nível do mar, inundações, enchentes, derretimento do gelo polar, entre outros eventos.
Desastres, como o que ocorreu no Rio Grande do Sul, e também em outros lugares no planeta, carregam consigo grande potencial de perdas e danos econômicos, sociais e ambientais.
Imagem disponível em:
https://atlasescolar.ibge.gov.br/mundo/2989-dinamica-dos-climas/temperatura.html
Imagem disponível em:
Para entender o que está acontecendo com a nosso planeta, começando pelo Brasil, é importante conhecer um pouco sobre a nossa geografia. E o IBGE pode ajudar!
O instituto é o órgão responsável por uma série estudos sobre solos, cobertura e o uso da terra e recursos hídricos no Brasil, produzindo geoinformação sobre esses e outros temas relacionados.
Vamos dar uma olhada em alguns deles?
Solos
Já ouviu falar em Pedologia? Só o nome é esquisito porque seu significado é pra lá de interessante! Pedologia é a ciência que estuda os solos, sua forma, origem e composição.
O IBGE dispõe de um conjunto de informações relacionadas à cartografia temática de solos. Através do aplicativo BDiA (https://bdiaweb.ibge.gov.br), é possível observar a distribuição dos tipos de solos no território brasileiro, sua morfologia e classificação.
O instituto também estuda o potencial natural dos solos para a agricultura, com os últimos resultados disponíveis no Mapa de Potencialidade Agrícola Natural das Terras do Brasil, publicado em 2022.
Você sabia que 32% da área do território nacional apresenta boa (30%) ou muito boa (2%) potencialidade ao desenvolvimento agrícola? Isso significa que, considerando as caraterísticas do solo, associadas ao relevo, essas áreas favorecem a agricultura.
E outros 33% do território apresentam potencialidade moderada ao desenvolvimento agrícola porque são locais com relevos ligeiramente acidentados, mais íngremes, que vão exigir ações específicas para que sejam aproveitados na agricultura.
Cobertura e uso da terra
O solo que recobre o planeta Terra está submetido à ação do tempo e também do homem. Ação do tempo significa que foram necessários milhões de anos para chegarmos ao solo com minerais e matéria orgânica onde podemos cultivar alimentos. E ação do homem... bem, essa, vocês já sabem...se continuarmos agindo mal, não haverá solo produtivo daqui a alguns anos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 90% dos solos do planeta podem ser degradados até 2050, o que pode resultar em terra árida, improdutiva e sem condições de gerar alimentos para a população (ver mais em Plenarinho).
A agricultura intensiva e o desmatamento, por exemplo, prejudicam os solos, levando ao seu esgotamento. Cobrir a terra com vegetação, principalmente a nativa, impede que as chuvas estraguem o solo, impedindo a erosão, colaborando na absorção da água por causa das raízes, ajudando na recarga das águas subterrâneas e no acúmulo de matéria orgânica, aumentando sua fertilidade. Sem mata, não há impedimento para as chuvas se deslocarem rumo a cidades, rios e lagos, o que pode resultar em enchentes ou alagamentos, além de facilitar os deslizamentos de terra.
De 2018 a 2020, 70 mil km² do país sofreram alguma mudança de cobertura e uso da terra, correspondendo a 0,8% do território nacional, ou uma área equivalente aos estados de Alagoas e do Rio de Janeiro.
Entre 2000 e 2020, a área agrícola do país cresceu 230 mil km² e a vegetação natural diminuiu 513 mil km². A vegetação campestre, por exemplo, diminuiu 10,6% (192,5 mil km) enquanto a vegetação florestal reduziu 7,9% (320,7 mil km²). Somadas, ambas reduziram 513,1 mil km² entre 2000 e 2020.
Tais resultados estão na pesquisa Contas Econômicas Ambientais da Terra: Contabilidade Física, que utiliza parte do que foi pesquisado no estudo Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra no Brasil, 2018-2020, ambos produzidos pelo IBGE.
Imagem disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101966.pdf
Recursos hídricos
Você sabe o que são recursos hídricos? Correspondem à quantidade total de água disponível para uso em um determinado local, sendo classificados em: águas superficiais, que são as de rios, lagos, lagoas e reservatórios; subterrâneas (abaixo da superfície); pluviais que são provenientes das chuvas; glaciais (armazenadas nas geleiras); e salgadas, dos mares e oceanos.
Cerca de dois terços do planeta Terra são cobertos por água, mas 97% dela é salgada e imprópria para o consumo humano. Aproximadamente 2% da água estão armazenadas nas calotas polares sob a forma de gelo e 1 % está presente nos aquíferos, solos, ou em fluxo (águas superficiais). É esse 1% de água doce em estado líquido que está disponível para saciar a sede dos animais e ser utilizada nas atividades humanas, como na agricultura e indústrias.
A água da chuva, quando cai, escoa pela superfície até os rios, córregos e riachos ou se infiltra nos solos e rochas para formar as águas subterrâneas que, posteriormente, podem exfiltrar (deixar sair) e abastecer os rios, como acontece nas nascentes. Os rios, por sua vez, desaguam no oceano, no caso do Brasil, o Atlântico.
Ao longo deste trajeto, nos diferentes ambientes mencionados, parte da água pode ser evaporada pela ação do sol, se transformando em vapor e formando nuvens, até novamente chover sobre os continentes, quando o ciclo será reiniciado. Chamamos esse movimento da água de ciclo hidrológico.
- Bacia hidrográfica
O que a água da chuva tem a ver com a bacia hidrográfica? Já falamos que todo rio é alimentado pelas chuvas que caem sobre uma determinada área da superfície terrestre.
A bacia hidrográfica é a área da superfície terrestre, delimitada pelos divisores de água, que drena toda a água da chuva para o mesmo local, sendo o ponto mais baixo do relevo.
Crédito: IBGE
As montanhas, serras, colinas, chapadas e outras formas de relevo elevadas são o que se chamam de “divisores de águas” que vão separar as águas que fluirão para um rio ou para outro, delimitando, portanto, as bacias hidrográficas de cada rio. Por isso é tão importante entender o relevo de um lugar que sofre um evento climático extremo, por exemplo, pois é ele que separa as águas das chuvas e determina por onde elas escoarão, o que leva um certo tempo, até que cheguem ao oceano.
O Brasil é o país com a maior quantidade de água doce no mundo (cerca de 13% do volume disponível no planeta). Seu território (e outras partes do nosso planeta também) é subdividido naturalmente em diversas bacias hidrográficas. E é delas que a sociedade obtém grande parte da água utilizada para realizar as atividades humanas.
As bacias hidrográficas que são próximas ou que possuem características naturais, sociais e econômicas parecidas formam o que se chama de “região hidrográfica”.
De acordo com a Base de Bacias Hidrográficas do Brasil (BHB250), divulgada pelo IBGE em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em 2022, há 5.353 bacias hidrográficas no Brasil que compõem as 12 grandes regiões hidrográficas.
Região Hidrográfica Amazônica
Região Hidrográfica Atlântico Leste
Região Hidrográfica Atlântico Sudeste
Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental
Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental
Região Hidrográfica Tocantins-Araguaia
Região Hidrográfica Parnaíba
Região Hidrográfica São Francisco
Região Hidrográfica Atlântico Sul
Região Hidrográfica Paraguai
Região Hidrográfica Paraná
Região Hidrográfica Uruguai
Preocupado com as questões climáticas desde sempre, o IBGE publicou um livro infantil – O que está acontecendo com a nossa Terra? – em 2002 onde já se falava em aquecimento global, efeito estufa e inundações, por exemplo. Você pode baixá-lo nesse link.
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=21075
E se você quer saber mais sobre esses assuntos tão importantes na atualidade, confira mais nos links abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=fjfI6YOifBc
https://atlasescolar.ibge.gov.br/brasil/3047-diversidade-ambiental/solos.html
https://atlasescolar.ibge.gov.br/brasil/3046-diversidade-ambiental/recursos-hidricos.html
https://plenarinho.leg.br/index.php/2021/06/conservacao-do-solo/
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101966.pdf
https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/gestao-das-aguas/panorama-das-aguas/regioes-hidrograficas
Glossário:
geoinformação: informação geográfica
ciclo hidrológico: ou ciclo da água, que é o processo permanente de transformação da água na natureza, passando por evaporação, condensação, precipitação, infiltração e transpiração.
agricultura intensiva: agricultura que não respeita a natureza e o tempo necessário para o solo se restabelecer
desmatamento: retirada da vegetação nativa de um ecossistema pelo homem.
vegetação campestre: são constituídas por vegetação abertas, mapeadas como: savana, que corresponde ao Cerrado predominante no Brasil central, ocorrendo também em pequenas áreas em outras regiões do país.
vegetação florestal: formações florestais são constituídas pelas florestas ombrófilas (em que não falta umidade durante o ano) e estacionais (em que falta umidade num período do ano), situadas tanto na região amazônica quanto nas áreas extra-amazônicas, mais precisamente na Mata Atlântica. Na Amazônia, predominam as florestas ombrófilas densas e abertas, com árvores de médio e grande porte.
aquíferos: formação geológica subterrânea em que a água pode ser armazenada.